Construção com significado talvez seja uma das mais sintéticas definições que se pode fazer da arquitetura. No entanto, ela parece bastante apropriada aos temas tratados neste número da Arquiteturarevista.
É justamente o significado que se atribui à construção o que permite aos arquitetos, muitas vezes, extrapolar a condição funcional do edifício e formular manifestos por meio do projeto arquitetônico. As experimentações do grupo inglês Archigram, ao exacerbar o sonho modernista da alta tecnologia aplicada ao edifício e à cidade, mostraram como o pensamento arquitetônico pode, mesmo sem sair do papel, influenciar toda uma geração de arquitetos, e se caracterizaram como o manifesto de uma época. O texto de Cláudia Cabral sobre o projeto do grupo para o concurso da orla de Monte Carlo resgata a tentativa de transformar a utopia em realidade construída. Da mesma maneira, a idéia de que o vidro – verdadeiro material-fetiche do modernismo, que possibilitaria a desmaterialização da arquitetura – tenha transferido sua potencialidade simbólica, em tempos recentes, para os diferentes aportes que a informática vem acrescentando à disciplina, é o que nos mostra o artigo de Hernan Barria Chateau.Eduardo Nardelli dá continuidade ao assunto ao abordar o conceito contemporâneo da arquitetura digital, indicando as múltiplas possibilidades que a nova ciência proporciona ao projeto, que cada vez mais se vê transformado em campo de manifestos e significados que antecedem a obra.Em sentido contrário ao do projeto como suporte de utopias e de excessos formais que a arquitetura contemporânea estimulada pela tecnologia digital, tem mostrado, o texto de Maurício Pezo propõe um sutil manifesto para que se considere a importância e a necessidade de uma arquitetura inútil. Uma arquitetura que procura devolver ao homem significados que há muito povoam seu espírito, mas que foram descartados pela velocidade e pelo consumismo de nossos dias. Nada melhor para ilustrar tal pensamento do que os interiores sensíveis e quase escultóricos de José Cruz Ovalle, mostrados e analisados por Rubén Muñoz Rodríguez.O artigo de Rogério Oliveira espa encerra esta edição mostrando que o projeto de arquitetura, documento intermediário e, ao mesmo tempo, objetivo final do exercício acadêmico, se coloca como o campo ideal para os questionamentos com respeito ao significado e à dimensão do ensino da disciplina”.
Sumário
- Archigram em Monte Carlo: arquiteturas subterrâneas, paisagens tecnológicas_ Cláudia Piantá Costa Cabral
- Desde la transparencia a la desaparición de la arquitectura_Hernan Barria Chateau
- Arquitetura e projeto na era digital_Eduardo Sampaio Nardelli
- La máquina inútil_Maurício Pezo
- La teoría de la obra: José Cruz Ovalle en las oficinas de Paneles Arauco. Pensamiento, obra y omisión_Rubén Muñoz Rodríguez
- Teoria e didática do projeto arquitetônico: uma relação permanente_Rogério de Castro Oliveira
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